quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Incrível! Fantástico! Extraordinário! Episódios da Política e façanhas de alguns políticos brasileiros – 2ª parte

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Liderança trabalhista e conquistas populares
(Foto DCM)
Leonel Brizola – Proezas do gaúcho “Itagiba”, um órfão de pai aos dois anos de idade, filho de um tropeiro assassinado pelas costas na Revolução de 1923, o caçula de cinco filhos, nascido na roça, em Cruzinha, antigo distrito de Passo Fundo, hoje de Carazinho, RS. Alfabetizado pela mãe, agricultora, faz o Curso Primário em duas escolas públicas, e aos quatorze anos ganha um bolsa estadual para fazer o Curso de Técnico Rural em Porto Alegre e em Viamão. Antes, em Carazinho, vai viver na casa de um casal metodista, que se admira com a determinação, os talentos e o esforço do menino e o acolhe. Trabalha como lavador de pratos, entregador de carne e de marmitas, engraxate, vendedor de jornais e marcador de tábuas em uma serraria. O seu primeiro registro de nascimento, e como “Leonel”, somente é feito aos quatorze anos, em homenagem a Leonel Rocha, um maragato que lutou ao lado de seu pai na Revolução, muito admirado pela família Moura Brizola. Na capital, enquanto não ingressa na Escola Agrícola onde estuda por três anos, é trocador de moedas e ascensorista. Aos dezessete anos, começa a cursar o ginasial e o científico na Escola Júlio de Castilhos, e tem de trabalhar como carregador de malas, engraxate e operário auxiliar numa refinaria para se manter. Aos dezoito, é aprovado em concurso público para Fiscal de Moinhos do Ministério de Agricultura no interior, mas logo se demite e volta a Porto Alegre para ser jardineiro da Prefeitura. Em 1942, ingressa na Faculdade de Engenharia da UFRS. Havia prestado o serviço militar na Base Aérea de Canoas, formando-se, depois, piloto privado. Entre um bom emprego na VARIG e a Engenharia Civil, optou, sem dúvida, por esta. Em 1945, ajuda a fundar o PTB gaúcho, quando conhece João Goulart e Getúlio Vargas. Este, impressionado com a inteligência e o dinamismo do jovem Leonel, diz aos primeiros trabalhistas, durante as caravanas para criação dos diretórios do partido no interior gaúcho: “Botem este guri na chapa que ele vai muito longe. No ano seguinte, é Presidente da Ala Moça do PTB e se elege deputado estadual constituinte, um dos mais votados. A intensa atividade política o leva a se formar Engenheiro Civil somente em 1949. No ano seguinte se casa com Neuza, irmã de João Goulart, a família mais rica do RS, se reelege deputado e é nomeado Secretário Estadual de Obras Públicas, revelando-se um grande administrador. Resumindo sua trajetória no Trabalhismo e na Esquerda, sempre como nacionalista: 1) Duas vezes deputado estadual no RS. 2) Prefeito de Porto Alegre. 3) Governador do RS, realiza o maior programa de Educação e Saúde Públicas de uma unidade federativa. 4) Pela primeira vez no País, estatiza duas empresas estrangeiras que muito arrecadavam da população, eram ineficientes e não investiam nos setores de energia e telefonia onde atuavam; a produtividade e a produção das empresas, agora públicas, são quadruplicadas. 5) Realiza o único programa de Reforma Agrária bem sucedido no Brasil, com a criação de pequenas e médias propriedades, alterando a estrutura rural do RS, com reflexos no Sul do País, plantando a semente do MST, dentro da lei, sem violência ou invasões. 6) Vai, em 1962, ao Estado do seu maior adversário, ao terreno do inimigo, a Guanabara de Carlos Lacerda, da UDN, e obtém, para a Câmara Federal, um terço dos votos do eleitorado carioca, sendo mais votado do País. 7) Em 1961, lidera a Rede da Legalidade, garantindo a posse constitucional do Vice-Presidente eleito João Goulart. 8) Exilado por quinze anos, volta ao Brasil, funda o PDT e é eleito, duas vezes, governador do RJ, contra a máquina federal e as Organizações Globo, tornando-se o único brasileiro, no período republicano, a dirigir dois Estados. 9) Responsável pela maior transferência de votos da História Política Brasileira, ao dar a vitória a Lula no RJ e no RS em 1989, quando o petista, à época nos dois Estados, não se elegeria deputado estadual. 10) Executa, com Darcy Ribeiro, Maria Yeda Linhares e Oscar Niemeyer, os CIEPS, o maior e mais bem sucedido programa pedagógico de Educação Pública, constrói a Linha Vermelha e o Sambódromo, amplia e reforma o sistema Guandu e consegue financiamento japonês e do BID, para despoluição da Baía da Guanabara, dos Rios Tietê e Guaíba, recursos mal geridos e desviados pelos governos que o sucederam. 11) É eleito Vice-Presidente e, em seguida, Presidente de Honra da Internacional Socialista. 12) Inventa (e por eles é traído) César Maia, Marcelo Alencar e Garotinho, entre outros; 13) De Saturnino Braga, Brizola levou “duas rasteiras”. Em 1982, acolhe Saturnino no PDT e o elege Senador. Em 1986, Brizola o faz o primeiro prefeito eleito do Rio de Janeiro, mas, no ano seguinte, ele rompe com Brizola e volta ao PSB, seu partido antes do Golpe de 1964. Em 1989, num ato patético, o “administrador” Saturnino declara, oficialmente, a “falência da Prefeitura do Rio”. Em 1992, milagrosamente, se elege vereador. Em 1994, tem votação ridícula para o Senado e, em 1996, não consegue sequer chegar à Câmara de Vereadores. Em 1997, se reaproxima de Brizola. No ano seguinte, numa coligação de Esquerda, Brizola o coloca, de novo, no Senado, com o compromisso, formalizado em cartório, de Saturnino ceder a metade do seu mandato (quatro anos), ao primeiro suplente do PDT, o que não cumpre, exercendo o mandato até 2006, dando “a segunda rasteira” em Brizola, voltando a apoiar Lula. 14) Em 2000, Brizola é derrotado na eleição para a Prefeitura do Rio para Luís Paulo Conde, cria de César Maia; 15) Em 2002, não chega ao Senado, vencido pelo incorruptível Sérgio Cabral, o Bispo Crivella, o ignoto pastor Manoel Ferreira, o medíocre Edson Santos, vereador do PT, e o tíbio Artur da Távola. Faleceu, em 2004, aos 82 anos, vítima de problemas cardíacos. Para os trabalhistas, depois de disputar duas eleições para Presidente da República, “Brizola não perdeu. O Brasil foi quem perdeu em não tê-lo como Presidente”. Alguns creem que, se Brizola sobrevivesse apenas ao Mensalão do PT, mesmo sem mandato, mas falando ao Povo e à mídia, Lula não conseguiria se reeleger em 2006.

Heráclito Fortes – Atua como Assessor, durante a Ditadura, em vários ministérios e empresas públicas. É filiado, no Piauí, à ARENA de 1970 a 1979 e ao PP de 1979 a 1982. Em 1978 fica na segunda suplência da ARENA para a Câmara dos Deputados. Mas, em 1982, assume a vaga, e fica até o ano seguinte, em virtude do falecimento do titular. Vai para o PMDB, é eleito, para o mandato de 1983 a 1987 e para o período 1987-1979, como constituinte, mas neste último ano renuncia para assumir a Prefeitura de Terezina. De 1995 a 2003, em duas legislaturas, é deputado federal pelo PFL. De 2003 a 2010, foi eleito Senador para um mandato de oito anos pelo mesmo PFL, mas em 2007, transfere-se para o DEM. Em 2013, ingressa no PSB, se elegendo, no ano seguinte, deputado federal, mandato que exerce atualmente. Amigo íntimo de Ulysses Guimarães, integrava a “Turma do Poire”, no Restaurante Piantella, em Brasília, de 1976 a 1992. Apesar de obeso, um contorcionista.

Getúlio Vargas – Não reproduzamos aqui a sua biografia política que é vastíssima, seminal, fundamental para a Nação e para o País que temos. E os leitores a conhecem. Destaquemos apenas três proezas, três dons de caráter e personalidade, de formação, de civismo e ideal político, que ele transformou em três indefectíveis condutas: 1) A sua distinta honorabilidade e incólume retidão como Homem Público: um cidadão que governou o Brasil, como ditador e como republicano eleito, dirigindo-o por dezenove anos, sendo quinze ininterruptos, ingressou e deixou a política com o mesmo patrimônio pessoal e familiar. 2) Sua magistral habilidade política, sua incrível capacidade de produzir entendimentos, unir ideias e tendências, agregar pessoas, inclusive atraindo adversários para participar, colaborar, até para governar com ele. 3) Sua notável visão e sensibilidade política, econômica, social e capacidade de realizar de Estadista. Apesar da mídia e dos militares da Direita a reboque do feroz e implacável Lacerda, somente um tiro, desferido por ele mesmo, foi capaz de vencê-lo, retirá-lo do poder.

Marcondes Gadelha – Três mandatos consecutivos como “autêntico do MDB”, da Esquerda oposicionista, de 1971 a 1983, sempre ameaçado de cassação pela Ditadura. Surpreendentemente, em 1989, é candidato a Vice-Presidente da República na chapa abortada de Sílvio Santos, pelo PFL, partido pelo qual retorna à Câmara em 1998 e em 2003. Em 2007, mais um mandato de deputado federal, agora pelo PSB. Atualmente, continua na Câmara, e até 2019, desta vez pelo PSC, agremiação de Direita explícita, ao lado de Bolsonaro. Um caso a estudar.


Lula – Após dois desgovernos, o processo do Mensalão transitado em julgado e o Petrolão em andamento, ambos dos quais foi o chefe; a sua decisiva, oculta e golberiana participação nos desastrosos governos de Dilma; dezenas de atos criminosos comandados e praticados por ele, denunciados e provados – Lula, incrivelmente, continua solto. Sem algemas, sem focinheira, sem coleira. E, também, sem tornozeleira eletrônica. Um fenômeno bem sucedido de delinquência política.

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Incrível! Fantástico! Extraordinário! - Episódios da Política e façanhas de alguns políticos brasileiros - 1ª parte

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Brilho, incoerência, coragem, oportunismo.
(Foto: revista Época)
Carlos Lacerda – Ideológica, política e sucessivamente, foi e militou, intensiva e contraditoriamente. Foi marxista-leninista; trotskista; participa de conspiração e planejamento de agitações em 1930, efetivada em tentativa de golpe contra-revolucionário em janeiro de 1931; escondeu-se em propriedade da família após a Intentona Comunista de 1935; nacionalista de esquerda, aliado e companheiro de Samuel Weiner na revista Diretrizes, e devedor de vários favores e oportunidades que Weiner lhe prestou; torna-se adversário político e desafeto de Samuel Weiner; direitista e conservador, assume o lugar de inimigo figadal de Samuel Weiner e mantém a oposição orgânica e visceral a Getúlio Vargas; udenista apaixonado, conspira contra o governo democrático e nacionalista de Getúlio, insulta e calunia o Presidente pela Imprensa; chama Samuel de "o bessarábio" ou "o bessarabiano", natural da Bessarábia, região da Romênia, nunca conseguindo provar; e Samuel o apelidou de "O corvo", pelo perfil do rosto e a "personalidade" de ave agourenta, traiçoeira, de rapina e carniceira; Samuel, que negou a vida toda o seu berço natural, admitiu-o em 1980, antes de morrer; Lacerda é acusado, pela História, de ser o assassino oblíquo de Getúlio; participa de duas tentativas de golpe contra JK em 1955 e, em seguida, com Carlos Luz e militares direitistas; foge para a Cuba de Fulgencio Batista; se posiciona a favor do golpe de 1964; apoiador da ditadura; em revés, como não consegue ser candidato à Presidência, passa a atuar contra a ditadura; independente, milita a favor de si mesmo; camaleônico, tenta formar a natimorta Frente Ampla com seus inimigos Jango e Juscelino; termina a vida como “lacerdista” ou, como querem alguns, como “eu mesmo” ou “radical de centro”. Governador da Guanabara, construiu os Túneis Rebouças e Santa Bárbara, o Parque do Flamengo e o Sistema Guandu, onde foi acusado de lançar mendigos que “sujavam a cidade”. Removeu as favelas do Cantagalo e da Praia do Pinto na Lagoa Rodrigo de Freitas, transferindo as famílias para as Vilas Kosmos e Kennedy. 

Acredito que ele deu um tiro no próprio pé no episódio da Tonelero que vitimou o Major Rubens Vaz. Lacerda estava armado, atirou várias vezes e não houve exame da sua arma. A “República do Galeão” e os militares da Direita não permitiram que fosse feita análise na arma de Lacerda, perícia técnica nem exame de balística sobre o tiro no pé de Lacerda. E o Brasil inteiro acreditou que ele fora uma vítima do atentado da Tonelero, atingido por um tiro disparado pelo mesmo indivíduo que acertou o militar. A última vez que vi Carlos Lacerda foi em Paraty, RJ, pouco antes de ele morrer, anônimo, silente, aparentemente triste, atuando como corretor de imóveis, tentando representar grupos investidores, intermediar vendas de casas e terras, dizia-se, "suspeitas", no mínimo “embaraçadas”, na região – fazendas, ilhas, praias. Era madrugada, e cruzei com Lacerda, só, sob chuva fina, parecia alcoolizado, admirando os sobrados coloniais, andando com dificuldade pelas ruas de pés-de-moleque do Bairro Histórico do Município Monumento Nacional. Lacerda foi um fenômeno ideológico. De voluntarismo, coragem, incoerência e oportunismo político. Inteligente, culto, grande tribuno.

Eduardo Cunha – Quatro vezes eleito deputado federal no RJ, a primeira, em 2003, pelo PPB (primeiro nome do PP), as seguintes pelo PMDB. Desde que entrou na política, lançado por Garotinho, é réu em processos por corrupção. Através da sua empresa ”Jesus”, é detentor de centenas de domínios na Internet. O PT deveria mandar celebrar uma missa, ou melhor, um culto protestante por semana em ação de graças, pela felicidade e a vida do ex-presidente da Câmara, que indeferiu de pronto (mesmo que por interesse próprio ou recíproco entre ele e o partido de Lula), rejeitou mais de cinquenta denúncias requerendo o impeachment de Dilma Roussef. Nunca houve um temporal de pedidos como aquele, maior do que a soma dos ocorridos durante toda a República contra um só Presidente. Dilma, somente pelo Petrolão, deveria ter sido impedida muito antes, ainda no primeiro desgoverno. Cunha foi amigo, solidário, generoso, aliado, complacente. Um irmão querido. Atualmente preso em Curitiba pela Operação Lava-Jato é considerado um fenômeno político. E financeiro.

Miro Teixeira – Foi o político de maior poder e prestígio da curta história do falecido Estado da Guanabara. Filho político de Chagas Freitas, e o genético que ele não teve, ninguém até hoje fez e desfez mais na Guanabara do que Miro. Colunista de O Dia e, ainda rapaz, Chagas o elegeu deputado federal pelo MDB. Em 1982, concorreu ao governo do RJ pelo MDB com Brizola (PDT) e Sandra Cavalcanti (PTB). Ficou no partido do Doutor Ulysses até as primeiras eleições pós-ditadura, quando muda de mala e cuia para o partido de Brizola, ali permanecendo, fiel, competente e coerentemente, até 2003 quando Lula o nomeia Ministro das Comunicações e ele vai para o PT. É demitido no mesmo ano. Anos depois volta para o PDT e, em seguida, ruma para o PROS, da base de Dilma, onde se reelege em 2014. Para a Câmara Federal, se elegeu três vezes pelo MDB; uma para a Constituinte pelo PMDB; seis, pelo PDT; e uma, pelo PROS. Hoje cumpre o décimo primeiro mandato agora pela REDE, que era base de Dilma, mas Miro votou a favor do Impeachment. Sempre bem eleito. Possui eleitorado cativo. É inteligente, hábil, competente parlamentar, um fenômeno bem sucedido da Política Carioca.

César Maia – Antes do primeiro turno das eleições de 1989, quando Brizola era o candidato do PDT, o então deputado federal César Maia, do mesmo PDT, procurou Fernando Collor, às escondidas, em São Paulo, para declarar que queria apoiá-lo. Collor, surpreso, o interrogou: “Mas, como? O Doutor Leonel Brizola não é o candidato do seu partido, o PDT? Como o senhor quer me apoiar?” Maia explicou: “Sim, é. Mas eu quero apoiá-lo”. Collor insistiu: “Mas é fácil. Basta o senhor romper com o PDT e declarar, publicamente, o seu apoio a mim”. Maia foi sincero: “Não, mas eu quero apoiar o senhor sem que o Brizola saiba”. Collor ficou desconsertado com a ousadia. Brizola teve conhecimento do encontro de Maia com Collor e chamou o correligionário para esclarecer. Maia negou tudo. Collor confirma e prova. Parte da entrevista de Collor, editada (não na íntegra como a assisti na Band em 1997), contando esse triste episódio está no endereço:


Passava os mandatos de prefeito no computador, como uma criança que ganhou um presente. Criou a palavra e a tolice denominada “factóide”, uma bobagem, fictícia e irrealizável, que praticava habitualmente, que assustava os incautos e neófitos pelo tom de seriedade com que era divulgada, e no contexto em que estava inserida. Inviabilizou, no município, o programa dos CIEPS que, como Secretário de Finanças de Brizola (“Com quem, diz ele, aprendi tudo de finanças públicas”), ajudou a construir. É réu em diversas ações de improbidade administrativa. Foi deputado na Constituinte de 1988, reelegendo-se em 1990 quando após a posse, se transferiu para o PMDB. Foi três vezes prefeito do Rio, cargo que também deu a Luiz Paulo Conde Cumpre o segundo mandato como vereador, o terceiro mais votado no último pleito. Elegeu seu filho, Rodrigo Maia, pela quinta vez deputado federal, atualmente presidente da Câmara, o primeiro na linha sucessória de Temer. Rodrigo Bethlem, Eduardo Paes, Índio da Costa, Pedro Paulo – todos são conhecidos no Rio como “Cesar Boys”, ou seja, garotos e criações de César Maia, que, quer queiram ou não, é um fenômeno inexplicável da Política Carioca.

Garotinho – Obra de Brizola. Pertenceu ao PC do B, ao PT, ao PDT, ao PSB, ao PMDB e, hoje, é filiado ao PR. Duas vezes prefeito de Campos dos Goytacazes, RJ (1986-8 e 1988-92), deu, ainda, dois mandatos de prefeito à mulher Rosinha Garotinho (2009-12 e 2013-6); Deputado Estadual (1986-88) e Governador do RJ (1998-2002). Elegeu a mulher sua sucessora no governo do Estado (2003-6). Foi deputado federal pelo PR (2011-15). Já protagonizou vários escândalos de corrupção, entre eles o propinoduto, um roubo descoberto em 2003, mas realizado no seu governo por fiscais estaduais, mancomunados com colegas da Receita Federal e doleiros que enviaram para Suíça US$ 77 milhões. Atualmente, em virtude da lentidão processual da Justiça brasileira, a Suíça, que bloqueia a fortuna, está propensa a não repatriá-la, com o risco até de o dinheiro ser devolvido ao fiscal Silveirinha, hoje solto, à época homem de confiança de Garotinho e e chefe da quadrilha.


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Histórias da Política

Durante mais de dez anos, nas décadas de 1970 e 1980, no início da minha vida de jornalista profissional, assinei colunas de Humor em jornais e revistas de Niterói, Rio e Brasília e fiz televisão numa emissora carioca. Foi um tempo fértil de muita criação e arte, em plena ditadura militar, quando publiquei cerca de quinhentos textos para fazer rir e pensar.  Como Humorista profissional, nunca tive problemas com a censura do regime, mesmo fazendo reflexões e críticas lancinantes, sátiras diretas de caráter ideológico político, a governos e oposições. Talvez porque sempre agi com respeito e elegância, não atacava a honra das pessoas, mas iluminava, com Humor, suas ideias e atitudes, e não apelava para o chiste grosseiro e a pornografia. Mas, sofri, sim, poucas vezes, autocensura, do próprio veículo que trabalhava. Na verdade, eram mais exercícios de defesa e autopreservação da empresa e dos nossos empregos, no clima policialesco que vivíamos, do que uma restrição à liberdade de pensamento e de imprensa. Lembro-me de que, durante o tempo que escrevi no Diário de Notícias do RJ, em duas ocasiões, o editor não publicou dois trabalhos meus sobre a Revolução dos Cravos, de Portugal, e seu líder, general António de Spínola, escrito assim mesmo, com acento agudo no pré-nome. No momento, me chateei. Depois, compreendi os vetos. Neste artigo, não criarei ou recriarei Humor. Apenas irei contar algumas histórias políticas, humorísticas e verdadeiras, que vivi, que ouvi ou que me relataram na infância e juventude. Não há ficção nelas.

INJÚRIA – Numa sessão da Câmara Municipal de Angra dos Reis, RJ, o íntegro e voluntarioso vereador getulista militante do antigo PTB, Benedito Braz Pereira, ouve ressoar de um discurso inflamado: “Isto é uma brasfêmia!”. O edil trabalhista indignou-se: “Protesto, Senhor Presidente. Eu sou muito macho, sou homem, chefe de família. ‘Fêmea’ coisa nenhuma. Não admito a ofensa...!

CIDADANIA – A vereadora Júlia Rocha, de Rio Claro, RJ, na década de 1970, questiona o Plenário da Câmara Municipal: “Temos de parar com essa mania de conceder Título de Cidadão Rio Clarense pra gente de fora. Temos de prestigiar o pessoal da terra”.

ESTRADAS – Na década de 1960, o vereador Antonio Porto, o Baiaco, de Paraty, RJ, protestando, em sessão da Câmara, contra o isolamento do município, sem estrada que seguisse serra acima em direção ao interior, até o Vale do Paraíba, bradou: “Precisamos construir uma estrada de ferro, nem que seja de pau”. Outro vereador ponderou: “Mas, Excelência, é impossível colocar trilhos para subir a Serra do Mar...” Baiaco retrucou: “Então vamos construir uma rodovia marítima, por cima d’água, cruzando a Baía da Ilha Grande...”

DIAGNÓSTICO – Nas eleições municipais de 1966 em Mangaratiba, RJ, um médico trabalhava como cabo eleitoral do candidato que fazia oposição a Edson Elias Dumas. No meio do sertão da Serra do Piloto, que faz divisa com Rio Claro, o médico após examinar um caipira, tentando cooptá-lo, diagnosticou: “O seu caso é grave, o senhor está com impaludismo”. O caipira rebateu prontamente: “Não, dotô, eu tô com Edson Dumas”.

CIDADANIA – A vereadora Júlia Rocha, de Rio Claro, RJ, na década de 1970, questiona o Plenário da Câmara Municipal: “Temos de parar com essa mania de conceder Título de Cidadão Rio Clarense pra gente de fora. Temos de prestigiar o pessoal da terra”.

ESTRADAS – Na década de 1960, o vereador Antonio Porto, o Baiaco, de Paraty, RJ, protestando, em sessão da Câmara, contra o isolamento do município, sem estrada que seguisse serra acima em direção ao interior, até o Vale do Paraíba, bradou: “Precisamos construir uma estrada de ferro, nem que seja de pau”. Outro vereador ponderou: “Mas, Excelência, é impossível colocar trilhos para subir a Serra do Mar...” Baiaco retrucou: “Então vamos construir uma rodovia marítima, por cima d’água, cruzando a Baía da Ilha Grande...”

DIAGNÓSTICO – Nas eleições municipais de 1966 em Mangaratiba, RJ, um médico trabalhava como cabo eleitoral do candidato que fazia oposição a Edson Elias Dumas. No meio do sertão da Serra do Piloto, que faz divisa com Rio Claro, o médico após examinar um caipira, tentando cooptá-lo, diagnosticou: “O seu caso é grave, o senhor está com impaludismo”. O caipira rebateu prontamente: “Não, dotô, eu tô com Edson Dumas”.

Norival (à esq.) e Nhonhô
 à época do comício
(Foto: Acervo Marcelo Câmara)

VIRTUDES – Nas eleições de 1958 para Prefeito de Paraty, RJ, o vereador Antônio Núbile França, o Nhonhô, da UDN, famoso pelo seu dom e dotes na oratória política, tinha como vice outro vereador, Norival Rubem de Oliveira, do PSP. Num comício em Tarituba, bela praia e vila paratyense, Nhonhô, elogia os candidatos da coligação estadual e local PTB-PSP-UDN, a deputado estadual e federal, a senador e a governador, recitando as virtudes e predicados de cada um. Ele já tinha tomado umas pingas (era sábio e primoroso pingófilo) e no momento de falar do seu vice, Norival, o raciocínio falhou e ele começou a ratear: “Norival Rubem de Oliveira, meu companheiro de chapa, o grande Norival... Como ia dizendo, o grande Norival... Norival... o candidato a vice-prefeito, homem de muitas qualidades... Norival, Norival... Norival Rubem de Oliveira... o amigo de todas as horas... Norival Rubem de Oliveira...” E não sabendo o que dizer dele, arrematou: “Norival, QUE SEMPRE BEBEU COMIGO!” Nhonhô e Norival venceram as eleições e dividiram o mandato. Cada um governou dois anos. Até hoje, se diz em Paraty que o melhor prefeito da sua história, foi um vice: Norival, que fez, realmente,  uma bela administração.


SIGILO – Nas eleições legislativas de 1933, em Caicó, RN, um cidadão, que votava pela primeira vez, depois de ser orientado sobre o sigilo do voto (“Ninguém pode saber em quem você votou, ouviu?” foi advertido), se apresentou na porta da sala da biblioteca municipal, onde se localizava a sua seção eleitoral, se identificou na mesa eleitoral e foi orientado a ir até a cabine indevassável no fundo da sala para recolher a cédula do seu candidato a deputado à “Assembleia Nacional Constituinte do Brasil”. Na saída, depois de percorrer os corredores com estantes de livros, ele teria de depositar a cédula na urna colocada junto à mesa, na porta da sala por onde entrou. Passou direto. A mesária chamou o sujeito: “Senhor, o seu voto, coloque aqui na urna.” Ao que ele reagiu: “De jeito nenhum. O voto é secreto, minha senhora. Ninguém pode ver. O meu voto eu escondi, está dentro de algum livro aí da biblioteca.


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Esquerda Democrática? Onde? - 3ª parte

Encerramos, com este artigo, a série que questiona a existência, no País, de partidos Socialistas Democráticos. O balanço, ao final de cinco artigos, não é animador. Entre nós, a denominação “Socialismo Democrático” transformou-se muito mais em uma legenda de propaganda para atrair curiosos, ingênuos, desinformados e incultos do que uma ideologia e regime de política. Esta, vivida por diversos períodos, em vários países da Europa, especialmente nos países escandinavos, provou ser capaz de transformar o Capitalismo, anulando ou, ao menos, mitigando os seus intrínsecos pecados e males que o transformam em um sistema que, historicamente, enseja a prosperidade de poucos, em detrimento da maioria, agrava a desigualdade e, em consequência, multiplica a injustiça e a infelicidade sociais.

PCB – O Diário Oficial da União, na edição de 4.4.1922, publica o registro do “Partido Comunista – Seção Brasileira da Internacional Comunista (PC-SBIC)”. Durante o século passado, e até 1962, o PC foi identificado como “Partido Comunista Brasileiro”, “PC”, “PC do Brasil” e “Partidão”. De ideologia marxista-leninista, hoje não stalinista, o PCB, partido revolucionário, objetiva implantar o Socialismo no lugar do Capitalismo, considerando e agudizando a inexorável “luta de classes”. A meta é a implantação de uma ditadura do proletariado, economia totalmente estatizada, no ambiente de pensamento e partido único. Em sua longa história, viveu metade da sua vida na clandestinidade, perdeu, assassinados, a maioria de seus dirigentes, e alternou, em sua trajetória, dezenas de acertos e erros. Do seu útero saíram o PSB, o PC do B, o PPS, várias partidos e correntes que praticaram a luta armada de 1964 a 1985. Atualmente, o PCB rechaça, veementemente, as políticas de conciliação entre capital e trabalho, “de compensação” para combater a fome e miséria dos trabalhadores dentro do capitalismo, repele as políticas “de submissão consentida à hegemonia burguesa". Ao ratificar suas teses históricas de partido revolucionário, reciclar estratégias de luta, o PCB, sem parlamentares no Congresso Nacional, profetiza: “o Poder Popular assumirá (...) um Estado Proletário – a Ditadura do Proletariado – que conduzirá a transição socialista visando a erradicar a propriedade privada, as classes e, portanto, o próprio Estado através da livre associação dos produtores”. Diante dessa síntese, considerando o seu fim político, o PCB atualiza e consagra o que Marx chamou de “Socialismo Científico”, ou o caminho para o Comunismo, em oposição a outros “socialismos”, modelos tidos como “românticos, utópicos ou burgueses”. E não há, definitivamente, como legendar o PCB como um partido Socialista Democrático, entendida a “Democracia” como regime de liberdade, pluralismo e representação. A candidatura de Marcelo Freixo, do PSOL, no segundo turno das eleições municipais no Rio é do PSOL e do PCB.

PSTU – Idem. Persegue a “ditadura do proletariado”, mas na linha trotskista. Considera o Impeachment de Dilma um golpe, se opõe a Temer. Defende o aborto e a legalização da maconha. Apóia Freixo.

PCO – Idem. Porém considera Freixo “de direita”.

REDE – Um PV com aparência de Esquerda, mas que é aliado do PT, seu berço e escola política. No processo de Impeachment, foi contra a saída de Dilma, que define como “um golpe”, apresentando, inclusive, no julgamento final, a emenda para preservar os direitos políticos de ex-presidente, contrariando a Constituição. Faz oposição a Temer e acompanha o PT nas votações no Congresso. Apóia Freixo.

Pilhéria: para Freixo, o Ministério Público
e a Jutiça brasileira, inclusive o STF, são seletivos.
O primeiro só denuncia o PT. O segundo só condena o PT.
(Foto: ILISP)
PSOL – Quando surgiu, em 2004, no ventre do PT, registrado no ano seguinte, no auge do Mensalão, em decorrência de divergências de alguns parlamentares petistas com os rumos e o comportamento do partido, a “falta de democracia interna”, sob a liderança da Senadora Heloisa Helena – pensou-se até, e seriamente, que teríamos realmente um partido Socialista Democrático, de oposição. Mas, com o passar das eleições, dos mandatos, das legislaturas, em todos os níveis, ficou claro que se tratava apenas de uma dissidência contrariada e ruidosa, e, de fato, uma força auxiliar do PT. Abrigando diversas correntes de Esquerda, oriundos de outros partidos e correntes, reformistas e revolucionários, o PSOL se apresenta programaticamente como um partido Socialista Democrático, porém, na prática, já consolidou a sua identidade – pelo seu comportamento, pelas suas atitudes “esquerdistas”, no pior sentido – como uma filial, fiel e dogmática, do PT. As campanhas de “Fora Fulano” e “Fora Beltrano” são rotineiras, risíveis e desarrazoadas. No entanto, falta o “Fora PT”, “Fora Lula”, que não acontece, e que foi a razão do seu nascimento. Trabalhou intensamente contra o Impeachment, que vê como “golpe”, e faz oposição cega e cerrada a Temer. Admite o aborto em alguns casos e luta pela legalização da maconha. Marcelo Freixo, como candidato do PSOL à Prefeitura do Rio, tem desempenho de um empedernido ginasiano oposicionista. Promete políticas estatizantes e grandes investimentos de dinheiro público, nessa época de crise generalizada, decorrente dos governos petistas. Não inclui, oficialmente, nas suas propostas, mas, em entrevistas, sempre defende a “desmilitarização, desarmamento  das polícias”, (imaginem o paraíso que isto seria para o crime organizado, o tráfico de drogas e de armas); e a inviável democracia direta com administração partilhada com os “conselhos de bairro e de comunidades” (favelas). Pugna pelo aborto e a legalização da maconha.


PV – Criado em 1986, o Partido Verde, no Brasil ou em todo o mundo, não tem como caminho, caráter ou objetivo, uma forma de governo, um regime político ou um sistema econômico. A ecologia, a sustentabilidade, um item no programa de qualquer partido, torna-se a sua razão de ser e denominação. A ideologia política, os objetivos e funções do Estado, além da ecologia – são secundários ou devem estar a serviço da conservação do Planeta. Uma inversão na vida da Nação organizada em País. Seria como ter um Partido da Bigamia Brasileira – PBB para quem é bígamo. Por isto, a história do PV mostra comportamentos insólitos, alianças bizarras, à esquerda e à direita, incoerências, contradições. Prega o aborto e a legalização da maconha. Se é um partido Socialista Democrático? Pode ou não ser. Um mistério, uma expectativa. Deve haver quem assim pensa em seus quadros. O importante é a sustentabilidade, O resto é detalhe, não é fundamental. Vale tudo. Ou, depois das eleições, não valeu nada. O PV pode estar em qualquer latitude política: à direita, à esquerda, no centro; pode votar contra, a favor, muito pelo contrário e “vice-versa”, como pontificou Jardel, jogador do Grêmio. Tudo vai depender de onde o partido planta e cultiva a sua horta. Vota em Freixo. 



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Esquerda Democrática? Onde? - 2ª parte

Neste artigo, vamos analisar a história e a conduta atual de mais dois partidos brasileiros que se apresentam como “Socialistas Democráticos”. O primeiro, o PC do B, de ideologia marxista-leninista-stalinista, nascido na década de 1960 de uma dissidência do antigo “Partidão”, insiste em propagar que tem 94 anos, querendo furtar para si a idade do PCB. O segundo, o PSB, também de inspiração marxista, mas não revolucionário, exibe história acidentada, prenhe de equívocos, conflitos e contradições, como suas duradouras núpcias com o PT, recentemente desfeitas.

PC do B – Fundado em 1962, decorrente de uma dissidência havida no seio do PCB, que seguindo líder soviético Khrushchov, optou pela desestalinização, em 1956, do Movimento Comunista Internacional , o PC do B tem ideologia marxista-leninista e no seu nascimento já adotava, consequentemente, a linha política de Joseph Stalin. Várias vezes, o partido foi atingido por dissidências, correntes e militâncias paralelas, marginais. Depois, percorreu as linhas maoísta, chinesa, e, por fim, albanesa, todas experiências comunistas frustradas. Na década de 1980, cheguei a participar, a convite do PC do B, em Brasília, das comemorações de um aniversário de nascimento de Stálin, quando assisti ao então dirigente Renato Rabelo proferir entusiástica e derramada palestra sobre a vida do “grande e eterno Joseph Stálin, nosso líder inspirador”. Ao cultuar a ideologia marxista-leninista, ao perseguir a ditadura do proletariado, um regime totalitário, de partido único, contra a liberdade e o pluralismo partidário, um regime partido único, de economia estatal, centralizada, afasta o partido do rol dos Socialistas Democráticos. Pragmaticamente, por largo tempo, o PC do B foi um aliado de Leonel Brizola, tanto nas eleições nacionais, como nas estaduais. Porém, ao se compor com os desgovernos de Lula e Dilma, participando deles inclusive, ao se comportar como um instrumento do PT, a sigla se distancia definitivamente desse terreno, exceto se considerarmos legítimo e válido o conceito marxista, exclusivo e excludente, de “democracia”.

Arraes (1916-2005):
contradições e apoio a Lula
(Foto: https://pt.wikipedia.org)
PSB – O partido nasceu em 1947, do grande fórum 2ª Convenção Nacional da Esquerda Democrática, com a absorção de ideias marxistas, porém como uma alternativa mediana, formulada por João Mangabeira, Hermes Lima e Domingos Velasco, ao Trabalhismo de Getúlio e o Comunismo de Prestes. Percorreu tortuosos e contraditórios caminhos, interrompidos pela Ditadura Militar de 1964, que incluíram o abrigo de grupo trotskista, aproximações e alianças com a UDN e com o Janismo. Em 1985, o PSB foi refundado. Ao retornar do exílio em 1979, Miguel Arraes, que fora Governador de Pernambuco pelo PST, uma sigla trabalhista, aliada a Jango e Brizola, não ingressa no PDT, como se esperava e seria natural. Arraes se filia ao PMDB, assim como Waldir Pires, do antigo PTB, para surpresa de todos. Em 1990, o governador de Pernambuco, Miguel Arraes, eleito pelo PMDB, vai para o PSB. Em 2000, o partido recebe Antony Garotinho. Importantes quadros, por isto, deixam o partido. Garotinho é candidato a Presidência da República, fica em terceiro lugar e influencia o PSB por três anos, quando, então, é, praticamente, “expulso” da agremiação, pois tem o seu recadastramento negado. Arraes retorna à direção e volta a dominar o PSB, apóia Lula nas eleições de 1989 até 2006, e Dilma em 2010. Antes da eleição de 2010, recebe Ciro Gomes, perde mais quadros por conta dessa filiação, mas não o lança candidato a Presidente, preferindo Dilma. Sempre aliado ao PT, participa dos governos petistas. Somente em agosto de 1914, o PSB desperta, critica os rumos das políticas do PT, sai do governo Dilma e lança Eduardo Campos, neto de Arraes, à Presidência da República, com um programa de governo distante da ideologia populista e da política orçamentária e fiscal suicida do PT. Um desastre de avião mata Campos e o PSB acolhe Marina Silva, em processo de registro da Rede de Sustentabilidade, como candidata à Presidência. No segundo turno, Marina, derrotada, pessoalmente apóia Aécio Neves, mas o Diretório Nacional do PSB, incrivelmente, recomenda o voto em Dilma. Após tantas contradições e hesitações para reassumir, efetivamente, os princípios e objetivos do Socialismo Democrático, mesmo não participando do governo Dilma em seus estertores, o PSB se dividiu, se pulverizou ao votar o impeachment, com parlamentares a favor e outros contra o impedimento de Dilma, defendendo a sua permanência. Atualmente, com o seu afastamento, aparentemente irreversível, do desmoralizado PT, distante da irresponsabilidade, do populismo e da demagogia criminosa do PT, o partido retoma o seu tradicional ideário, tenta cumprir, coerentemente, no posicionamento e pronunciamentos de sua direção, no comportamento parlamentar, o seu histórico e prestigioso programa, identificando-se, verdadeiramente, como um partido Socialista Democrático.

No próximo artigo, visitaremos, criticamente, os demais partidos que se apresentam como “Socialistas Democráticos”.



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Esquerda Democrática? Onde? - 1ª parte

Após passearmos, criticamente, sobre o PT e o PDT e constatarmos que o primeiro falece desmoralizado e degradado, depois de rasgar as tradicionais bandeiras populares da Esquerda, de participação, ética, igualdade de oportunidades, distribuição de renda e justiça social, através de um projeto desonesto de poder, que incluiu a demagogia institucionalizada, o descalabro administrativo, a orgia orçamentária e fiscal, a gastança criminosa e a corrupção generalizada via aparelhamento do Estado; e o segundo partido, o PDT, aliando-se, incondicionalmente, ao PT, traiu os seus compromissos históricos com o Trabalhismo Brasileiro – neste artigo vamos iluminar a atualidade das outras agremiações que se apresentam como “de Esquerda”, e questionar: Podem elas, realmente, serem identificadas, pelos seus ideários, programas e condutas políticas, como “Partidos Socialistas Democráticos”, no amplo espectro de opções ideológicas antiliberais e anticonservadoras?

PSDB – A Social Democracia pode ser definida como um Socialismo reformista, não revolucionário, dentro do Capitalismo, com pluralidade de representação política, mas onde, mantendo-se a economia de mercado, a livre iniciativa e o lucro, o capital é rigidamente regrado. O Estado intervém na economia, visando ao bem-estar social, melhor distribuição de renda, um aperfeiçoamento do sistema capitalista, tornando-o mais igualitário, mais democrático, mais justo. Nascida no útero do marxismo, originalmente os social-democratas, ao contrário dos marxistas ortodoxos, criam que, através do “reformismo”, do revisionismo da doutrina de Marx e Engels, chegar-se-ia ao Socialismo, através da própria evolução social e política. Na Alemanha, a divergência aberta por Bernstein contra os socialistas revolucionários de Rosa Luxemburgo, formalizou a cisão no início do século passado. Em seguida, dentro da própria Social-Democracia, novas cisões: caminhar rumo ao Socialismo ou permanecer no Capitalismo, transformando-o, via sistema representativo e eleições e através da nacionalização das empresas, programas sociais radicais como educação e saúde públicas universalizadas e maiores tributos para os mais ricos. No pós-guerra, estes últimos se aproximam e se aliam aos partidos de centro, originando a atual “Terceira Via”, configurada com o fim da URSS e a queda do Muro de Berlim, que congrega “social=democratas” com os “verdes”, tornando prioritários programas sociais de distribuição de renda, as lutas ecológicas e pelos direitos humanos. No mundo, raros são os partidos verdadeiramente social-democratas. Quase todos se transformaram em neoliberais. Entre nós, o PSDB de Mário Covas e FHC já nasceu como “Terceira Via”, uma pseudo Social-Democracia, deturpada, não-socialista. Confirmou-se, na prática, o seu caráter neoliberal, privatista e antinacional. Se há algum social-democrata, socialista democrata, no PSDB? Ocupando cargos eletivos e militantes, certamente, não. Talvez, alguns eleitores mal informados, iludidos, impressionados com a insígnia “Social-Democracia Brasileira”. No Brasil, os únicos partidos, genuinamente, social-democratas, socialistas democratas que existiram foram o PTB pré-64 e o PDT de Leonel Brizola, hoje ambos finados. Brizola foi Vice-Presidente e Presidente de Honra da Internacional Socialista, que reunia os autênticos da ideologia, distantes das “Internacionais Comunistas” ou Komintern, depois Kominform, ambas dissolvidas em 1943 e 1956 respectivamente, sob o comando da extinta URSS.

Freire: ex-comunista
(Foto: GGN)
PPS – Fundado em 1992 por Roberto Freire, um dos quadros mais importantes do PCB, numa dissensão deste, com a derrocada da URSS e do Comunismo no mundo, o Partido Popular Socialista nasce se proclamando “social democrata”, “socialista democrático”, “novo Socialismo” e, ao mesmo tempo, apoiando a “Terceira Via” que nada se identifica com a verdadeira Esquerda. O partido toma o número 23, do antigo “partidão” e, desde a primeira hora apóia o Governo Itamar Franco, dele participa e tem o próprio Freire como seu líder na Câmara. O Governo Itamar, com o apoio do PPS, viabiliza a chegada do PSDB ao poder, e sua política neoliberal, integrando o Governo FHC e mesmo o governo de Lula até 2003. Nacional e regionalmente, nos Estados e Capitais, a história do PPS registra alianças inimagináveis com o DEM, o PL, o PTB e PT do B, com vários setores da Direita. O PPS só acorda para fazer oposição à Lula e, depois, à Dilma, com o Mensalão. No STF é processado por usar a história e os símbolos do quase centenário PCB. A rigor, a trajetória e façanhas do PPS não o credenciariam como um partido com identidade ao Socialismo Democrático. No entanto, atualmente, sua firme e contundente postura ética e de ação política de oposição aos governos de Lula e Dilma e a favor do impeachment, alinhado com o compromisso de recuperação do País, recoloca o PPS na sua linha ideológica original, na qual foi criado, ou seja, na Esquerda Democrática.

PC do B – Fundado em 1962, decorrente de uma dissidência havida no seio do PCB, que seguindo líder soviético Khrushchov, optou pela desestalinização, em 1956, do Movimento Comunista Internacional , o PC do B tem ideologia marxista-leninista e no seu nascimento já adotava, consequentemente, a linha política de Joseph Stalin. Várias vezes, o partido foi atingido por dissidências, correntes e militâncias paralelas, marginais. Depois, percorreu as linhas maoísta, chinesa, e, por fim, albanesa, todas experiências comunistas frustradas. Na década de 1980, cheguei a participar, a convite do PC do B, em Brasília, das comemorações de um aniversário de nascimento de Stálin, quando assisti o então dirigente Renato Rabelo proferir entusiástica e derramada palestra sobre a vida do “grande e eterno Joseph Stálin, nosso líder inspirador”. Ao cultuar a ideologia marxista-leninista, ao perseguir a ditadura do proletariado, um regime totalitário, de partido único, contra a liberdade e o pluralismo partidário, um regime partido único, de economia estatal, centralizada, afasta o partido do rol dos Socialistas Democráticos. Pragmaticamente, por largo tempo, o PC do B foi um aliado de Leonel Brizola, tanto nas eleições nacionais, como nas estaduais. Porém, ao se compor com os desgovernos de Lula e Dilma, participando deles inclusive, ao se comportar como um instrumento do PT, a sigla se distancia definitivamente desse terreno, exceto se considerarmos legítimo e válido o conceito marxista, exclusivo e excludente de “democracia”.

PSB – O partido nasceu em 1947, do grande fórum 2ª Convenção Nacional da Esquerda Democrática, com a absorção de ideias marxistas, porém como uma alternativa mediana, formulada por João Mangabeira, Hermes Lima e Domingos Velasco, ao Trabalhismo de Getúlio e o Comunismo de Prestes. Percorreu tortuosos e contraditórios caminhos, interrompidos pela Ditadura Militar de 1964, que incluíram o abrigo de grupo trotskista, aproximações e alianças com a UDN e com o Janismo. Em 1985, o PSB foi refundado. Ao retornar do exílio em 1979, Miguel Arraes, que fora Governador de Pernambuco pelo PST, uma sigla trabalhista, aliada a Jango e Brizola, não ingressa no PDT, como se esperava e seria natural. Arraes se filia ao PMDB, assim como Waldir Pires, do antigo PTB, para surpresa de todos. Em 1990, o governador de Pernambuco, Miguel Arraes, eleito pelo PMDB, vai para o PSB. Em 2000, o partido recebe Antony Garotinho. Importantes quadros, por isto, deixam o partido. Garotinho é candidato a Presidência da República, fica em terceiro lugar e influencia o PSB por três anos, quando, então, é, praticamente, “expulso” da agremiação, pois tem o seu recadastramento negado. Arraes retorna à direção e volta a dominar o PSB, apóia Lula nas eleições de 1989 até 2006, e Dilma em 2010. Antes da eleição de 2010, recebe Ciro Gomes, perde mais quadros por conta dessa filiação, mas não o lança candidato a Presidente, preferindo Dilma. Sempre aliado ao PT, participa dos governos petistas. Somente em agosto de 1914, o PSB desperta, critica os rumos das políticas do PT, sai do governo Dilma e lança Eduardo Campos, neto de Arraes, à Presidência da República, com um programa de governo distante da ideologia populista e da política orçamentária e fiscal suicida do PT. Um desastre de avião mata Campos e o PSB acolhe Marina Silva, em processo de registro da Rede de Sustentabilidade, como candidata à Presidência. No segundo turno, Marina, derrotada, pessoalmente apóia Aécio Neves, mas o Diretório Nacional do PSB, incrivelmente, recomenda o voto em Dilma. Após tantas contradições e hesitações para reassumir, efetivamente, os princípios e objetivos do Socialismo Democrático, mesmo não participando do governo Dilma em seus estertores, o PSB se dividiu, se pulverizou ao votar o impeachment, com parlamentares a favor e outros contra o impedimento de Dilma, defendendo a sua permanência. Atualmente, com o seu afastamento, aparentemente irreversível, do desmoralizado PT, distante da irresponsabilidade, do populismo e da demagogia criminosa do PT, o partido retoma o seu tradicional ideário, tenta cumprir, coerentemente, no posicionamento e pronunciamentos de sua direção, no comportamento parlamentar, o seu histórico e prestigioso programa, identificando-se, verdadeiramente, como um partido Socialista Democrático.


No próximo artigo, visitaremos, criticamente, os demais partidos que se apresentam como “Socialistas Democráticos”. 


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Esquerda? Que Esquerda? A do PDT?

Alguns internautas receberam o primeiro artigo desta série, dedicado ao PT, como uma intenção deliberada deste jornalista de livrar uma suposta Esquerda do partido da responsabilidade pelos males causados ao País. Não. Absolutamente. Nada disso. Três foram os objetivos daquele artigo: procurar demonstrar que as ações dos governos do PT não se coadunam, em tese, com os valores e a ética de uma doutrina socialista democrática; que os verdadeiros socialistas que estiveram no PT o deixaram a partir das condutas iniciais do primeiro governo Lula; e que, como se comprovará ao final da série, os verdadeiros socialistas, com as suas naturais virtudes, pecados e erros, não habitam os partidos ditos “de Esquerda” no País, estão distantes do processo político-partidário, ocupados em outros ofícios e missões, ideológicas ou não.

José Augusto Ribeiro:
História com seriedade.
(Foto: www.hildegardangel.com.br)
Aqui, numa segunda reflexão, perguntamos: Há Trabalhistas de Esquerda no atual PDT? Evidentemente que não. Talvez, uns poucos, franciscana e saudosamente, em desconforto, sem ter para onde ir, que, ao agirem, de acordo com as suas convicções, estão sendo marginalizados ou processados para a expulsão do partido. Há exceções. Alguns intelectuais de Esquerda, incrivelmente, permanecem no PDT, ainda integram o partido, como o brilhante jornalista e historiador José Augusto Ribeiro, autor dos três volumes esgotadíssimos de A Era Vargas. Há alguns outros valorosos trabalhistas-socialistas, aqui e acolá, com a carteirinha do partido, frequentando-o. Mas, onde está a maciça, a expressiva Esquerda Trabalhista, Brizolista, do PDT? A maioria está fora da vida político-partidária, votando, consciente e responsavelmente “nulo” ou “em branco” a cada eleição, desde a partida de Brizola. “Se, no Brasil, o Trabalhismo é uma ideologia na gaveta e se não existe partido trabalhista, não há em quem e porque votar” - argumentam.

CARTA DE LISBOA - Em 1980, o PDT foi a alternativa de Leonel de Moura Brizola, após perder a histórica sigla PTB para Ivete Vargas, numa complexa e maquiavélica manobra do General Golbery do Couto e Silva, o mesmo que ajudou a inventar Lula. No ano anterior, em Portugal, Brizola e mais 125 Trabalhistas, gente de várias latitudes sociais e diversos talentos, como Darcy Ribeiro, Francisco Julião, Doutel de Andrade e Herbert de Souza, o Betinho, elaboram e assinam a Carta de Lisboa, manifesto político, documento social, econômico e cultural, socialista e nacionalista, que marcaria o renascimento do velho PTB, mas acabou sendo o “registro de nascimento” do PDT, “um partido nacional, popular e democrático”. Essa Carta transformou-se no ideário e no programa básico do PDT. Nela, Brizola prega uma “solução trabalhista para o País, despida de soluções importadas” e convoca para a participação e o debate todas as forças populares, democráticas e progressistas visando à “construção de uma sociedade socialista, fraterna e solidária, em Democracia e Liberdade”. Após prever um partido que deve praticar a tolerância, a fraternidade, o pluralismo e condenar a manipulação de sindicatos e organizações populares, Brizola diz que deseja “recuperar o papel renovador que desempenhava os trabalhistas antes de 64”.

IDEAIS BRIZOLISTAS - Além de condenar todas as formas de censura, defender os direitos dos trabalhadores e, indiscriminadamente, os direitos humanos, a Carta enumera quatro missões então urgentes do novo partido, diante o drama social que a Nação vivia, sob a Ditadura Militar: 1) salvar as crianças do abandono e da fome, e, da delinquência, os jovens “analfabetos e descrentes da sua Pátria”; 2) viabilizar o exercício dos direitos dos negros e índios, fazendo-lhes justiça; 3) dar a mais séria atenção às mulheres brasileiras, espoliadas em sua cidadania e no seu trabalho; 4) assumir a Nação a causa do Povo Trabalhador do Norte e Nordeste, vítimas de cruel e permanente “colonialismo interno”. Brizola coloca o Povo Brasileiro como “sujeito e criador do seu próprio futuro”, sublinhando “o caráter coletivo, comunitário e não individualista da visão Trabalhista”. E encerra a Carta, asseverando que, com a organização do PTB – sonhava ele – “continuaremos firmemente, sob a inspiração da Carta Testamento do Presidente Getúlio Vargas, a caminhada junto ao povo que nos levará à emancipação da Pátria”.

O TRABALHISMO, UMA DOUTRINA NA GAVETA - Tomemos a ideologia Trabalhista que tem no Trabalho e nos Trabalhadores os valores primaciais de uma Nação, para a construção do Estado e suas instituições, a evolução política, o desenvolvimento socioeconômico e cultural de um país. Em seguida, viajemos pela História do Trabalhismo Brasileiro cuja semente está na Revolução Farroupilha, na luta pela República e sua afirmação, no Governo gaúcho positivista de Júlio de Castilhos. Depois, com Getúlio Vargas, Alberto Pasqualini pensou e sistematizou a doutrina. Marcondes Filho organizou o sindicalismo e ajudou a dar face trabalhista a um partido, liderado por Vargas. Vieram Jango e Brizola para consolidar a ideologia definitivamente. Meditemos sobre os percursos político-ideológicos de Vargas, o Estadista do Século XX, que fundou e estruturou o Estado Brasileiro, praticou, efetivamente, o Trabalhismo em suas decisões e feitos, em toda a sua dimensão humana e social, estabeleceu os alicerces da economia nacional; de Jango com as Reformas de Base, seu governo nacionalista e popular, o golpe que, por isto, sofreu e por causa dele morreu. Reflitamos sobre a Carta de Lisboa, seus fundamentos, sua crítica, seus objetivos, o que o PDT nela buscou e dela cumpriu. Analisemos, por último (e nada aconteceu depois) a brilhante, coerente e vitoriosa caminhada de Brizola como líder político, nacional e trabalhista, prefeito, deputado estadual e federal, o único brasileiro governador em dois Estados, sua conduta de estadista, seus extraordinários feitos como administrador, sua rica biografia, bem como as vitórias e derrotas do PDT. Definitivamente, concluímos: no Brasil, o PDT é uma doutrina na gaveta.


Então, estamos prontos para questionar: Esse PDT que sobreviveu após a partida do “Doutor Leonel”, e que está aí, flagelado, raquítico, canhestro, manco, contraditório, vendido, desfigurado, aliado ao PT, com o liliputiano Carlos Lupi no leme e o patético Ciro Gomes na proa, fazendo composições esdrúxulas regionalmente, tem algo a ver com o Trabalhismo Brasileiro? Com o Trabalhismo Socialista? Com a Esquerda? Deixo as perguntas aos leitores.


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Esquerda? Que Esquerda? A do PT?

Vamos, numa série de artigos, dar um passeio pelo cenário político-partidário do País, para saber onde estão os personagens da verdadeira Esquerda. Comecemos pelo PT, que se diz “de Esquerda”. No Brasil, quando falamos de Esquerda, lembramos do PCB, de 1922, comunistas marxistas-leninistas de Astrojildo Pereira e, depois, Prestes, hoje de Ivan Pinheiro, e suas históricas dissidências e linhas; no PSB de João Mangabeira, depois do contraditório Arraes; nos Trabalhistas-Nacionalistas, a Esquerda  Democrática do PTB do Getúlio eleito em 1950, de Jango e Brizola, depois PDT; nos trotskistas dissidentes do PCB de 1962, que criaram o PC do B, de Grabois, depois de Amazonas, partido agora em falência nas mãos do PT; nos Socialistas cristãos discípulos de Maritain, defensores do Dom Hélder Câmara pós-64, habitantes de vários partidos; no MR8 próximo do antigo MDB, por ele acolhido; do saudoso PSDB de Covas e Montoro; e em outras vertentes populares e progressistas.

Tem-se falado muito, nos atuais estertores do PT, que a Esquerda sofreu um duro golpe, mortal, com o Petrolão e a Lava-Jato. Insistem: E, agora, com o PT desmoralizado, moribundo, considerado antes, ainda no Mensalão, “uma quadrilha” pelo Judiciário; o Lula, segundo o Ministério Público, comandante da “propinocracia” que aparelhou o Estado, saqueou a Petrobrás e vários órgãos públicos, incluindo os “Fundos de Pensão”; o Zé Dirceu alquebrado, condenado, em reclusão, pairando o risco de uma delação “laureada”, cartártica, dele para ele mesmo, com um gravador camuflado na cela; com os esquálidos e minguados “líderes” e ex-ministros processados; parlamentares, presidentes e tesoureiros da sigla na cadeia – o que será da Esquerda? Pergunto: E o que tem a ver o PT com a Esquerda Brasileira? Nada. Ou quase absolutamente nada.

Nulidade, desgovernos e corrupção
(Foto: noticias.uol.com.br)
CAI A MÁSCARA - No passado, antes de o Lula ser revelado apenas como um hábil, sagaz, vitorioso negociador e líder sindical; depois, político fisiologista, ladino, oportunista e arrivista, ideologicamente oco, dono pragmático de um “partido”; demagogo sem ideias, sem rumos, sem posições, hoje réu por corrupção e outros crimes em mais de um processo – pensou-se até que o PT, filosoficamente e na práxis premonitória, fosse um partido de Esquerda. Nem todos. Pois muitos disseram que o PT votou contra o passo democrático que foi a eleição de Tancredo, que não assinou a “Constituição Cidadã”, foi contra o Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal. Entretanto, muita gente, verdadeiramente de Esquerda, bem intencionada, além dos pato-oposicionistas a qualquer governo, dos ingênuos, dos tolos e dos esquerdistas (estes na pior acepção que Lênin definiu), embarcou no PT. Antes de o PT ser governo já se exibia, ética e politicamente, muito mais como hordas tontas e oportunistas de pelegos sindicalistas e de grêmios estudantis do que um partido político. O primeiro sinal de que não havia seriedade foi a hopozissão burra e cega, bem como a decisão de não apoiar Brizola, um líder com história política e consistência ideológica, após a sua volta do exílio e a sua natural candidatura à Presidência. Consequência: a humilhante derrota para Collor. E mais duas derrotas. Com a eleição e posse de Lula configurou-se o embuste, a fraude, uma gestão para remunerar sindicalistas sem jornadas e candidatos derrotados, intelectuais sem cérebros, esquerdistas profissionais (como havia e ainda há os “estudantes profissionais”), uma estrutura de milhares de cargos comissionados para pessoas despreparadas que os assumiram avidamente; e mais: cabides de empregos destinados a párias sem ofício a viver do filantrópico Fundo Partidário, dispostos a tudo. Quais os sintomas, os sinais dessa realidade distante dos valores e dos ideais socialistas? Foram muitos, inúmeros.

DESGOVERNO E CORRUPÇÃO - Em menos de trinta dias no Planalto, Lula começou a rasgar as bandeiras do PT que empunhava por mais de vinte anos e confirmou os caminhos neoliberais de FHC, com destaque para a continuidade da política econômica, a elaboração do orçamento com superávits primários em desfavor do País, para pagar juros da dívida, pela consolidação dos programas que os petistas chamavam de privataria, a taxação dos aposentados etc. Além de adotar e ampliar os programas sociais do PSDB, que tanto criticavam e combatiam, logo, iniciou-se o aparelhamento total do Estado e, em seguida, o Mensalão. O Bolsa-Família, sêmen de Cristóvão Buarque, sistematizado e aprimorado por FHC, teoricamente um programa de inclusão e promoção social, ao invés de ser uma alavanca contra a fome e a miséria, condicionada à Educação e à Saúde, tornou-se uma caridade institucional eleitoreira permanente, lugar de desvios e corrupção, onde uma porta é aberta aos miseráveis para um curral de gado apascentado paternalisticamente, sem saída, reproduzido geometricamente, objetivando a perpetuação do “partido” no poder. Nos governos do PT, quem ganhava três salários mínimos o IPEA e o IBGE transformaram em classe média. Eis a falsa inclusão. Vamos gastar, fazer prestações, comprar automóveis. Os bancos nunca se fartaram tanto. Vamos endividar as famílias. Vejam onde e como estamos! Mostrava-se, então, através de várias decisões demagógicas, populistas e dissimuladamente “de esquerda”, atitudes tortas, coxas, antinacionais, de suicídio em médio prazo, como se comprovou adiante, na gastança criminosa, na orgia administrativa orçamentária e fiscal, que o PT estava longe da Ética e dos programas tradicionalmente da Esquerda, de igualdade, distribuição de riquezas; da justiça social responsável, das posições nacionalistas e universalistas; da participação popular, de rédeas e regulação do capital; do controle, fiscalização e intervenção estatal na economia, na vida do País, visando à igualdade; serviços públicos de qualidade e a oportunidade para todos. Ao final do segundo governo Lula, os desmandos, a ineficiência e a corrupção já eram os principais agentes e programas da era petista.

E quem permaneceu no PT? Os poucos homens e mulheres verdadeiramente de Esquerda deixaram o PT. Foram cuidar de suas vidas ou, em erro, se abrigaram em outras siglas – PSOL e REDE – desgraçadamente, hoje, forças auxiliares do PT. Onde estão as pessoas de Esquerda do PT? No PCB, no PCLCP - Pólo Comunista Luiz Carlos Prestes, minguadamente dispersos em alguns partidos, na academia, de pijamas, na Literatura, na Ensaística, no Jornalismo; alguns desistiram, se ocultaram, viraram apicultores, recolhidos às suas resignações, percorrendo suas vocações apolíticas, entre outros destinos. Não há gente de Esquerda no PT. Permanecem no PT, ainda e incrivelmente, inocentes inúteis, bobocas de crachá, dogmáticos sem dogmas, sem saber por que, carreiristas sem escadas... mas Socialistas de ideias e de fato, sérios, retos, de doutrina, convicção e militância, nenhum. E o País? Ainda é cedo. Ainda não sabemos.



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Abduções necessárias e urgentes

Indivíduos que deveriam sumir, desaparecer (suas imagens, vozes, atos e referências a eles), não aparecer na mídia, em lugar nenhum, nem em psicografia de médium, estar fora do País, longe do planeta há muito tempo. Mas desde quando?

Ricardo Berzoini – Desde que mandou, como Ministro da Previdência Social, em entrevista coletiva, aposentados e pensionistas com mais de noventa anos, doentes ou com dificuldades de locomoção, “se virarem”, a fim de irem para as filas do INSS de madrugada para se recadastrarem: “Não tenho nada com isto, obrigação e problema de cada um...” Por isto, foi criado o Troféu Berzoini da Crueldade. Em 2014, fez inflamado discurso em defesa de Pizzolato. Recentemente, as delações da Andrade Gutierrez fecharam a tampa do caixão do bancário.

Armando Nogueira (mesmo depois de morto) – Desde a redemocratização do País em 1985, após 31 anos de ditadura militar quando cumpriu, com lealdade e proficiência, o cargo de Assessor de Comunicação Social do Governo Federal, chefiando o Jornalismo da Globo, especialmente três anos antes, com o escândalo do Proconsult/Rede Globo, quando comandou a frustrada e desmascarada fraude contra a eleição de Leonel de Moura Brizola ao Governo do Estado do Rio de Janeiro.

Aloizio Mercadante – Logo após o falecimento de Roberto Marinho, quando fez mais de um pronunciamento no Congresso e concedeu várias entrevistas perguntando ao universo: “O que será da Educação e da Cultura Brasileiras sem o Doutor Roberto Marinho?” Há pouco tempo, gravações da Lava-jato desnudaram completamente a sua conhecida vaidade e arrogância.

Rubens Ricupero – Depois das suas declarações em 1994, como Ministro da Fazenda, em rede nacional de TV, fora do ar, sem saber que estava sendo gravado e captado por uma antena parabólica, quando revelou ao jornalista Carlos Monforte sua posição quanto às informações econômicas do Governo: "Eu não tenho escrúpulos; o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde".

Nada + zero à esquerda + coisa alguma
(Foto: www.brasilpost.com.br)
Dilma Rousseff – Imediatamente após o aparecimento do primeiro cromossomo.

Fernando Henrique Cardoso – Para alguns, desde que, ingressando na política partidária, começou a negar e contraditar o seu passado como intelectual e professor; para outros, a partir do momento que executou o programa de privatizações, doando e aniquilando grande parte do patrimônio público nacional, dando origem e liderando a privataria até hoje intocável.

Xuxa – Em defesa da infância, desde que Pelé lhe deu emprego como apresentadora de um programa para crianças na falecida Rede Manchete.

Gritadores “sertanejos” – Desde que, vestidos de cowboys norte-americanos, rotularam baladas de baixíssima qualidade, inaudíveis, como Música Caipira ou Música Sertaneja, gêneros, tradicional e autenticamente brasileiros, com fulcro na História e na Cultura Brasileira.

Lindbergh Farias – Desde que, em 2003, se elegeu pelo PT deputado federal com discursos veementes prometendo investigar a fundo todo o processo de privatização promovida nos governos do PSDB. Até quem odiava o PT votou no estudante. Tomou posse em 2004. Desapareceu, ficou mudo no episódio do Mensalão, era um oculto no Congresso, e nada fez em relação às privatizações de FHC. Em 2005 tomou posse como Prefeito de Nova Iguaçu, sendo reeleito em 2008. Acumula processos como “o jovem alcaide da Baixada”. Em 2011, voltou a Brasília como Senador pelas mãos de Sérgio Cabral do PMDB. E continua a mudar de assunto quando o assunto é “privatizações”. Recentemente, quando o vaso sanitário do seu gabinete apresentou problemas, preferiu mudar de gabinete.

Chitãozinho e Chororó, Ivete Sangalo, Daniel, Paula Fernandes, Zezé di Camargo e Luciano, Daniela Mercury, Michel Teló e Cláudia Leite, entre outros semoventes – Desde que gravaram os seus primeiros discos.

Fausto Silva – Desde que foi para a Globo.

Raul Gil – Tolo e chato, desde a concepção.

Lula – Desde foi eleito deputado federal por SP, quando se revelou quem era – nada, um oportunista – e o que pretendia – tudo, menos ser um Político, um Homem Público reto e coerente, com ideias e posições. Alguns, mais benevolentes, acham que ele deveria ter sumido mais tarde, coitado, logo após assumir a Presidência, quando taxou os aposentados, começou a negar todas as causas que defendeu por décadas e destruir todas as bandeiras do “partido” que criou. Mensalão e Lava-jato seriam vidas após a morte, a serem consideradas futuramente.

Carlinhos Brown – Desagradável desde que começou a dar entrevistas.

Fernando Collor de Mello – Desde que conscientizou de que era filho de Arnon de Mello e entrou na Política.

Pedro Bial – Para alguns, desde se tornou o biógrafo canonizador de Roberto Marinho; para outros, a partir do momento que se consagrou como apresentador do Big Brother.

Ana Maria Braga – Desde que apareceu na TV.

Pagodeiros – Desde que “músicos” sem talento, abaixo da mediocridade, colocaram instrumentos típicos do Samba em “não melodias, desarmonias e disritmias”.


Roqueiros brasileiros (Com as raríssimas e justas exceções) – Desastrosamente, desde que se convenceram que poderiam imitar compositores norte-americanos e ingleses de rocks, passando a descompor, a fazer barulho, a gritar textos musicalmente indizíveis.



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